Fluminense CT Xerém

Duque de Caxias, RJ, Brasil

2007

2.500m²

Arquitetura: Celio Diniz, Eduardo Canellas, Eduardo Dezouzart e Tiago Gualda

CONCEITO O novo Centro de Treinamento do Fluminense Football Club, localizado em Xerém, distrito de Duque de Caxias, deverá abrigar todas as atividades de treinamento do time de futebol profissional do clube de maneira funcional, confortável, considerando os conceitos mais atualizados de condicionamento de atletas de alta performance. A construção do novo CT representa um grande passo no caminho da profissionalização do departamento de futebol do clube, criando condições para novas conquistas e para colocação do Fluminense no patamar de referência no cenário nacional do futebol.

IMPLANTAÇÃO E ACESSOS A distribuição linear do conjunto, lindeira aos campos, possibilita a articulação direta dos diferentes setores com as áreas de gramados. Garantir permeabilidade visual principalmente entre os campos e setores nos quais o atleta deverá fazer seu condicionamento físico ou recuperar-se de contusão, como salas de fisioterapia, musculação e departamento médico, é essencial para que o jogador quando olhar para o gramado e assistir seus companheiros treinando, sinta-se motivado para abreviar seu período de inatividade. Esse princípio foi uma das condicionantes observadas na gênese do projeto. Pelo outro lado da lâmina, a implantação linear torna possível, de maneira simples e direta, acessos diferentes para os diversos usuários do CT. Acessos independentes principalmente dos jogadores e profissionais da imprensa é importante para controle das atividades dos jornalistas, para controle de divulgação de eventuais treinos reservados e para preservação dos atletas. O projeto completo é composto por três campos, sendo dois com dimensões recomendadas pela Fifa, 105 x 68 m, e outro com as dimensões do campo do estádio do Maracanã - onde o Fluminense realiza a maioria dos seus jogos - com sistemas de iluminação, drenagem e irrigação adequados e com orientação sentido norte – sul. Acompanhando a orientação dos campos, o que não poderia acontecer de outra forma, visto que, as atividades laborativas dos atletas devem acontecer junto à lateral do gramado, a edificação principal foi orientada não da maneira mais recomendada e sim com as fachadas mais extensas com azimutes 90° e 270°. Para que a orientação não se tornasse um problema para o conforto térmico dos interiores, lançamos mão de soluções arquitetônicas com recuos e protetores que sombreiam a envoltória o máximo possível além de aproveitar a presença da generosa vegetação limítrofe ao terreno, que garante proteção contra a insolação de fim de tarde.

TIPOLOGIA ARQUITETÔNICA A construção compacta, com menos área de envoltória, é notoriamente mais adequada às edificações servidas por sistemas de condicionamento de ar, pois diminui a área de superfície de troca de calor com o meio externo, conservando a temperatura de conforto interna, exigindo menos das máquinas de ar condicionado. Em contrapartida, a tipologia cúbica inviabiliza por completo o funcionamento da edificação com ventilação natural durante os períodos menos críticos. Não é justificada, portanto, a adoção de outra tipologia arquitetônica que não privilegiasse a ventilação natural de maneira tão eficiente como a lâmina esguia, mesmo sabendo que, em alguns períodos, essa ventilação natural deverá ser substituída pelo ar-refrigerado. Além disso, e especialmente no caso do Centro de Treinamento, isso resulta em menos áreas de fachada e menos ambientes em contato com as zonas de gramados, fato indesejável ao projeto. Sendo assim, optamos por favorecer as soluções passivas, tendo o cuidado de dotar os componentes de envoltória com materiais construtivos com inércia térmica média e com elementos sombreiros.

PROGRAMA Distribuído em uma lâmina horizontal principal, o programa de necessidades foi dividido em quatro setores primários conforme a semelhança entre as atividades. Os setores abrigam espaços para atividades laborativas dos atletas, imprensa, atividades administrativas e serviços, totalizando uma área construída de aproximadamente 2900 m². Os diferentes espaços foram projetados como uma sequência em linha tornando a arquitetura do Centro de Treinamento simples e funcional. O planejamento da obra é conceito importante para a viabilização econômica da construção do novo CT. Nesse sentido, propomos sua construção em duas fases principais, pelo menos. Na primeira fase, deve-se considerar as atividades essenciais para adequação dos novos ambientes ao planejamento da rotina de treinos dos atletas. Posteriormente, em outra etapa, serão edificadas as arquibancadas para espectadores e o terceiro campo de futebol. É importante ressaltar que a tipologia arquitetônica linear facilita sobremaneira a construção em fases. Localizado em posição com visibilidade privilegiada dos três campos, o espaço destinado aos profissionais de imprensa oferece todas as condições para a boa execução de suas atividades sem, no entanto, conceder acesso às áreas de treino. Para a realização de entrevistas, é projetada uma zona mista na qual apenas os jogadores selecionados têm acesso. A imprensa pode dispor de um auditório se lhe for permitido. Esse espaço deve ser utilizado para palestras internas do treinador e comissão técnica na rotina de treinamentos. As salas de diretoria são localizadas em uma lâmina suspensa perpendicular ao restante do conjunto que se projeta para frente da lâmina principal garantindo excelente visão dos campos e de todo o CT, inclusive da imprensa. Conceitualmente, funciona símile a uma torre de controle de aeroporto. Não há necessidade de construção de alojamento tampouco de áreas de lazer, haja vista a recente inauguração do Hotel Concentração Telê Santana, onde os atletas deverão se alojados durante os períodos de concentração anteriores aos jogos ou nos inícios de temporadas.

VENTILAÇÃO NATURAL E TÉRMICA Em função do clima com temperaturas mais altas durante o verão e por conta do excesso de carga térmica produzida pelo metabolismo dos atletas e pelos equipamentos em atividades de exercícios físicos, não é possível solucionar o conforto térmico apenas com estratégias passivas ao longo de todo o ano. A renovação de ar poderá ser insuficiente para retirar todo o calor produzido tornando a utilização de condicionadores de ar inevitável, porém, acreditamos ser possível restringir seu uso aos períodos mais críticos. Todos os ambientes do CT podem funcionar com ventilação natural cruzada ao nível do usuário graças à tipologia arquitetônica linear e à disposição uniforme das aberturas ao longo das duas fachadas. A regularidade das fenestrações evita também a formação de zonas possivelmente privadas do ar fresco dos ventos. As aberturas para entrada do ar mais frio são localizadas em posição inferior e no lado oposto às aberturas de saída respeitando a direção dos ventos predominantes. Com isso, ficam garantidos o funcionamento do efeito chaminé e a retirada do ar aquecido dos interiores dos ambientes que tende a se elevar por convecção. É importante que a ventilação natural cruzada funcione também para a retirada do calor latente produzido pela transpiração dos atletas.

CONCLUSÃO Dessa maneira, fica evidente que o novo Centro de Treinamento da equipe principal do Fluminense Football Club deve ser uma grande contribuição para a recolocação do clube na posição de vanguarda nacional e torná-lo um dos mais bem estruturados entre os grandes clubes do Brasil. O projeto para o novo CT segue parâmetros de qualidade nacionais e internacionais sem, no entanto, inviabilizar economicamente sua construção, sinalizando assim, um futuro promissor a médio e longo prazos para o clube.

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